A bandinha, entidade quase sempre existente na maioria das cidades do país, mesmo tendo origem militar, sempre marcou presença em todos eventos nos mais diversos locais desse país.
Minas Gerais parece ter sido ao longo dos tempos o lugar onde essas manifestações culturais mais acontecem. O grupo uniformizado na maioria das vezes como militares, mostrando a sua origem, chama a atenção do povo pelo som e pelo ritmo sincronizado com os passos dos integrantes. A moça feia e a bonita, os marmanjos e as crianças, todos saem" p'rá ver a banda passar", como na canção de Chico Buarque de Holanda.
A "furiosa", "liga" ou sei lá mais quantos apelidos o grupo leva por esses rincões afora, sempre foi responsável pelo fundo musical nos mais diversos eventos das cidades, principalmente nos pequenos municípios. Tempos atrás, cidade que quisesse ser respeitada como tal tinha que ter a sua banda, por menor que fosse o grupo e a quantidade de instrumentos. Hoje já não é tanto assim. Prefeitos contratam outras "bandas marciais" e outras "bandas" que não tem nada com as tradicionais corporações musicais de outrora.
"Dia da cidade", da "Pátria", "Semana Santa", na visita de políticos ou de autoridades,e até no sepultamento do vulto importante da cidade, lá soavam os trombones, pistons, clarinetes, bombardinos entre outros instrumentos de sopro ao compasso do surdo, tarol, pratos e o som grave do baixo.
"Dia da cidade", da "Pátria", "Semana Santa", na visita de políticos ou de autoridades,e até no sepultamento do vulto importante da cidade, lá soavam os trombones, pistons, clarinetes, bombardinos entre outros instrumentos de sopro ao compasso do surdo, tarol, pratos e o som grave do baixo.
Agrupamento que se presta tem que saber executar o "Hino Nacional", algumas marchas militares e as famosas marchinhas de "Lamartine". Esta última, servia e serve até hoje para contagiar o povo, apesar das bandas modernas executarem desde samba, rock até chá-chá-chá.A banda da Essa está aí para confirmar.
No Carnaval e nas demais festas, do alto do coreto, lá estava o grupo a animar os foliões. Para animar outras festas, convidava-se a bandinha, se não a festa não estaria completa.
Na nossa cidade, a bandinha remonta aos primeiros anos de existência do lugar como cidade. Acredita-se que a banda tenha chegado com a fundação da cidade em 1909 ou talvez até antes disso. A foto acima, tirada aos anos 18 do século XX, é uma evidência da existência dessa orquestra formada com os mais diversos instrumentos sonoros. Dos membros, foram identificados nesta foto, o alfaiate Télio Martins e o seu primo e escrivão da coletoria Benjamim Lemes.
Talvez entre os outros estejam o chefe de obras da prefeitura, fazendeiros e seu filho, garçons, turistas que acabaram gostando do lugar e se tornaram cambuquirenses, além de outros tantos que chagavam e tivessem vontade de aprender a tocar. E, foi assim que muitos rapazes vindos da roça e se encantaram com o som daquela novidade e acabaram por se tornar músicos para sofrimento dos pais que acreditavam que numa guerra, seriam eles os primeiros a tombar com as balas ou baionetas dos inimigos. Afinal existia um boato que os músicos soldados iam na frente para encorajar o resto.
Alguns desses músicos até se engajaram no exército a convite do comandante do Regimento de Três Corações para participar da banda. Mas, outros apavorados lembrando da velha lenda da guerra, nem quiseram saber e desestimulados pelos pais, perderam essa chance.
Vários maestros passaram pela cidade, especialmente contratados para reger e ensinar o grupo prático a ler partituras para se tornar músicos verdadeiramente. Desses alunos um ou outro se destacou tornando-se maestro mais tarde.
A decadência, apesar da insistência do Estado em promover atualmente campanhas em prol da manutenção dessa cultura, vem se instalando nessa área, um dos patrimônios culturais mais interessantes do país. O abandono e o desinteresse do poder público através dos anos, aliado a mudanças culturais quase que aniquilaram esse bem cultural, quase mataram as nossas bandinhas do interior. Outro fator é o custo necessário para os instrumentos cada vez mais caros.
Durante algum tempo, a igreja se tornou uma espécie de patrono e ajudou a manter essas bandinhas que se transformaram num adereço das procissões e de outros eventos religiosos.
Em Cambuquira, um desses cidadãos do povo conhecido como "Biá" (foto abaixo) de músico virou o popular maestro e por poder e graça de políticos que usaram dos seus predicados como regente, transformou-se também em nome de logradouro público. Assim denominou-se o coreto quase centenário do Jardim Silvio Marinho, de "Coreto Biá".
Há alguns anos, a banda continua tocando. Talvez não tenha a mesma qualidade das orquestras sinfônicas dos grandes centros, nem das bancas marciais existentes, mas com toda sua precariedade continua despertando a alegria, a curiosidade e outros tantos sentidos das pessoas, mostrando que essa manifestação cultural ainda vai durar muito apesar da também decadência do ouvido humano, principalmente dos mais jovens que hoje parece ficar alheio a qualquer som que venha do passado.
Quando a banda passa, até os admiradores de outros ritmos alienígenas param para ouvir o som e assistir o seu desfile tal qual faziam nossos antepassados.
Quando a banda passa, até os admiradores de outros ritmos alienígenas param para ouvir o som e assistir o seu desfile tal qual faziam nossos antepassados.
Na foto acima, Sebastião S. Lemes, um dos rapazes vindos da zona rural que se tornou músico, José Silva, Zinho e seu irmão Biá, todos membros da Banda 12 de Maio, aproveitando os conhecimentos adquiridos na "furiosa" para ganhar uns trocados no Carnaval. Essa deve ser uma foto dos anos 50, num dos hotéis da cidade. E, na foto do meio, o menino Rolando Lemes, lá pelos anos 30, acompanhava o seu pai e amigos numa das muitas apresentações da banda.
Se interessar, clique nos nomes em destaques e saiba que pessoas eram essas.
Créditos: Arquivos particulares de Rosa Maria Lemes e Gilberto Lemes
Essa história continua breve...
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