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"Não se apaga a história. Muito menos os documentos históricos, que nada mais são do que os registros dos fatos que ocorreram no passado. Quer eles sejam agradáveis ou desagradáveis." juíza de Direito Hertha Helena Rollemberg Padilha

segunda-feira, 26 de maio de 2008

PERSONAGENS DA NOSSA HISTÓRIA

Manoel Almeida Santos, o Neco da Jardineira. Manoel Almeida Santos, filho de Antônio Almeida (Santos) e Maria Gertrudes dos Reis (a Mariquinha) foi casado com Maria Aparecida [Almeida] filha de Antônio da Silva Passos e Amélia (ou Amália) da Silva Lemes. Com sua esposa, teve 4 filhos: Aldair Almeida, Maria Amélia Almeida, Manoel Almeida Filho e Antônio José Almeida Santos. Fora do casamento, teve 3 filhos noticiados, e outros tantos que "o povo diz" mas ninguém sabe quem são...Foi alfaiate (junto com seu irmão Antônio "Japão" Almeida) e padeiro quando jovem,, e depois de casado, comprou um caminhão.
Com esse caminhão ele fazia transporte, principalmente de gasolina, que buscava em tambores em Cruzeiro e trazia para abastecer Cambuquira, Três Corações e região. Certa vez, encheu o caminhão de rapadura (pego em um engenho perto da ponte do Rio Verde) e foi vender no Nordeste! Ou ele tinha outros interesses por lá, ou foi muito mal orientado... o fato é que obviamente não conseguiu vender nada, e ainda perdeu toda a mercadoria que melou... Com uma mão na frente e outra atrás, ele voltou para Cambuquira.Se recompôs, vendeu o caminhão e comprou uma jardineira em algum ano entre 1945 e 1947.
Comprou também a concessão da linha Cambuquira – Caxambu via Conceição do Rio Verde. Nos primeiros anos, o negócio foi muito bem. Rapidamente Neco comprou mais 3 jardineiras, todas no Rio de Janeiro, de 2a mão, através de companhias de transporte que estavam trocando seus ônibus. Neco então as reformava e colocava para fazer a linha Cambuquira – Caxambu. Neco dirigia a jardineira principal. Como trocador, Manoel “Boca de Peixe” nos dias regulares, e seu filho, Manoel Almeida filho (o Nequinho) nos feriados e fins de semana. Esse arranjo foi até 1950, quando Nequinho foi estudar em Lavras. Ai o arranjo passou a ser que quando o Nequinho vinha de Lavras em julho e em dezembro, Manoel "boca de peixe" tirava suas férias e Nequinho assumia a função de trocador.Nequinho conta que na época ele era magrinho, franzino mesmo, e tinha muita dificuldade em ajudar o pai com as bagagens que eram colocadas na parte superior do ônibus. Com vergonha de admitir fraqueza, ao ser acordado de manhã para ir trabalhar, sempre dizia que como tinha ainda que tomar café e escovar dentes, então era pro pai ir na frente, que ele, Nequinho, iria direto para a saída da cidade encontrar o pai. Assim, quando Manoel Filho chegava, as malas já estavam no bagageiro e era só receber as passagens e dar o troco... Não havia rodoviária na época. A jardineira ficava parada em frente ao que hoje é a “Quitanda do Douglas” (ali era uma garagem, continuação do posto de gasolina). Dali seguia via Rua Direita até o parque.. Nequinho apanhava o ônibus na saída de Cambuquira onde hoje é a Figueira. Existe um quadro de Jonas Lemes que retrata uma cena justo nesse local, onde ao longe se vê um grupo de pessoas, incluindo um menino. Nequinho sempre gostou de pensar que o menino podia até ser ele, registrado num dos muitos dias em que esperava a Jardineira do pai... Depois a Jardineira seguia direto para Caxambu, parando a toda hora para deixar e pegar passageiros nas roças do caminho. Neco era um personagem conhecido em Cambuquira e em Caxambu. Levava sempre com ele um garrafão de vidro empalhado cheio de água de Cambuquira e almoçava num restaurante em Caxambu chamado Rancho das Acácias. Quando chegava lá sempre procurava o lugar mais cheio no restaurante (normalmente veranistas), só para fazer a cena: pegava o garrafão e enchia os copos de água de quem estava com ele e dizia bem alto: “Estou bebendo água de Cambuquira porque a de Caxambu faz homem virar bicha!”O povo ficava olhando pros copos d'água que estavam bebendo e depois pro Neco.... E o Neco completava: “Quem quiser prova, é só procurar o Ivon Cury! (*)” Depois de algum tempo, ninguém estranhava mais, e quando ele chegava no restaurante, já ficavam esperando pela cena do garrafão! Mas o tempo, as pessoas pararam de pagar a passagem em dinheiro. Pegavam o ônibus na promessa de pagarem em espécie. A mesa de Manoel Almeida Santos ficou então farta: ovos, verduras, galinhas, outros pequenos animais; enfim, o que comer não faltava. Faltava sim dinheiro vivo, para pagar a gasolina e as peças de reposição das jardineiras, já que ninguém queria comprar as galinhas e outros víveres que Manoel tinha de sobra, nem aceitar como forma de pagamento. O posto, a garagem e a loja de peças automotivas eram um único negócio, pertencente a, se não nos falha a memória, Oscar Marques. A loja de peças era onde hoje é o mercado Valle na Rua Direita (e ali trabalhava Armando Almeida, irmão do Neco), a garagem onde é a Quitanda do Douglas e o posto bem na esquina, ligando os dois anteriores. E como se tratava de um negócio, ele também precisava receber em dinheiro. Não demorou muito para que Neco tivesse sua dívida protestada por Oscar e tivesse que vender as jardineiras.Ficou apenas uma jardineira, mas essa também não durou muito. Na época, muitos turistas chegavam em Cambuquira vindos de avião, mas o caminho da cidade até o campo de aterrissagem e vice-versa envolvia uma subida muito íngreme e ninguém gostava de fazer esse percurso. Manoel Almeida fazia, e foram diversos motores fundidos no processo, necessitando de mais peças de reposição, acumulando mais dívidas... A última jardineira foi então vendida, e Neco Almeida comprou, em sociedade com Fernando Ricardo (na época genro, casado com Aldair Almeida, hoje já falecido [2007] ) um sítio em Brasília, onde plantou arroz. Mas Neco definitivamente não tinha sorte com os negócios, e depois da primeira colheita já feita e ensacada, acordou um belo dia e encontrou o depósito vazio: ele havia sido roubado pelos próprios funcionários. Estava em vias de voltar para Cambuquira, uma vez que havia ficado sabendo que a linha Cambuquira – Caxambu ainda estava em seu nome, e tinha a esperança de comprar a Jardineira de volta e retomar o negócio de transporte coletivo... Mas decidiu antes de voltar por operar sua vesícula, mais ou menos em 1967, já que sentia muitas dores principalmente ao dirigir, e se pretendia voltar a dirigir regularmente, isso seria um problema.Morreu logo após operar a vesícula, por infecção hospitalar, em Brasília, DF, sem ter podido voltar a sua terra natal.
Essa pode parecer uma história triste, de alguém muito azarado nos negócios, que morreu "antes da hora", e coisas assim. Mas não é. Neco Almeida era, como podem ver pela história do garrafão, um sujeito bem humorado, brincalhão, e com todos seus eventuais defeitos, alguém de bom coração. E as recompensas podem chegar "atrasadas" mas sempre chegam! No começo de 2006, um senhor abordou Nequinho Almeida, que estava na janela de sua casa (construída onde antes era a casa de Neco Almeida), poucos dias depois de Nequinho estar de volta vindo do Rio de Janeiro para morar em Cambuquira, perguntando de poderiam conversar. Nequinho disse “Pode falar!”, mas o senhor insistiu que ele fosse até lá fora, pois gostaria de falar de perto. Sem entender o motivo, Nequinho desceu.O senhor então disse que estava lá para agradecer, e contou sua história, que mais ou menos reproduzo abaixo: "__O senhor não se lembra de mim, mas eu me lembro do senhor. O senhor trabalhava ajudando seu pai como trocador, não é?Quando seu pai era vivo, não tive oportunidade de agradece-lo. Quando vim morar em Cambuquira, vim até aqui para isso, mas ele tinha ido para Brasília, e soube que faleceu por lá. Soube que sua viúva voltou a morar nessa casa, e depois o político (Antônio Almeida, irmão de Nequinho Almeida), mas eu não os conhecia e fiquei sem graça de vir até aqui. Então soube que a casa agora era sua, então vim.Quando eu era jovem, eu morava em Cruzília e minha mãe em Cambuquira. Minha mãe ficou muito doente e eu não tinha dinheiro, então todos os dias, eu ia a pé de Cruzilia até Caxambu de tardinha, e de lá seu pai me levava de graça até Cambuquira, e depois, no dia seguinte, me levava de volta até Caxambu, de onde eu ia para Cruzilia. Assim eu pude dar assistência à minha mãe, cuidar dela à noite quando não havia outra pessoa que pudesse estar com ela, e principalmente estar com ela quando ela faleceu. Seu pai nunca me cobrou um tostão. Eu sempre falava que quando eu pudesse mandaria pagamento, mas infelizmente, nunca pude. Mas eu precisava pelo menos agradecer. Eu não iria ficar tranqüilo sabendo que nunca o agradeci propriamente por isso, então agradeço a ele através do senhor." "Meu pai, em lágrimas, ficou atônito e sem reação. O cidadão apertou efusivamente a mão de meu pai, e foi embora, sem dizer seu nome ou onde morava. E de repente todos aqueles anos de falta de dinheiro e excesso de comida fizeram sentido e ganharam um contexto.
Manoel Almeida, o Neco da Jardineira, podia não ter sorte nos negócios. Podia ter muitas galinhas no quintal e nenhum dinheiro no bolso. Podia ser mulherengo que só ele. E brincalhão às vezes a ponto de parecer rude aos que não o conheciam direito e interpretavam errado suas brincadeiras. Mas fez diferença na vida das pessoas, e é só para isso que estamos nesse mundo, não? Para fazer a diferença. E ele certamente o fez...




Nota:(*) Ivon Cury, ator, comediante e cantor da época, era natural de Caxambu. E, muito gozador representa os tipos com trejeitos que lembravam os "afeminados", embora não o fosse. E, o argumento de Neco era para atrair mais turistas para Cambuquira naqueles tempos de competição saudável entre as estâncias.

PERSONAGENS DA NOSSA HISTÓRIA - Texto (reeditado) de Adriana Almeida.

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