Eu e meus irmãos perdemos nosso pai, minha mãe perde o seu eterno enamorado.
Partiu no 13 de março passado, às 8,30 da manhã inexplicavelmente depois de tomar o seu café da manhã enquanto assistia um programa religioso da TV Aparecida. Foi num suspiro repentino e fulminante e nos deixou.
Eu e meu irmão ainda tentamos aplicar nele um processo de massagem cardíaca. Mas, ele não respondia nada.
Bateu em todos um sentimento de decepção.
A cicatriz completamente seca evidenciava que tudo era um sucesso. Já não havia mais inchaços, nem manchas e já se alimentava normalmente.Já dormia bem, muito diferente dos primeiros dias pós operatórios.
Preocupado com a minha mãe que dormia no quarto ao lado para que um dos filhos lhe fizesse companhia, sempre dizia "Se a Naninha morrer eu não sei o que será da minha vida" pois ela era o seu primeiro e único amor. Nós ouvíamos tudo e pensávamos que ele talvez nem tinha ideia dos riscos que ele estava submetido.
Sebastião da Silva Lemes, acima com a sua clarinete, era um homem forte em tudo, mas principalmente no caráter.Tinha um orgulho dos filhos e dos netos que tinha. E, chorava de emoção quando algo de bem acontecia na família. Lembro-me que uma vez pegou minha primeira filha que ela achava muito bonita e sumiu pelo bairro. Ele foi exibir aquela sua neta para todos os seus conhecidos.
Durante o velório, meu primo Tarcísio ainda comentou que quando trabalhou com ele ainda adolescente notava que em muitas vezes ao pagar os seus auxiliares o que sobrava para ele e para sua família. Dava valor aos que trabalhavam duro como ele.
Papai nasceu no Palmital, mas não quis a vida rural como a de seus pais e partiu para cidade onde se dedicou aos instrumentos musicais. Manejava muito bem diversos instrumentos de sopro, corda e teclados. Mas, essa profissão não dava para criar os filhos.Plantou café, trabalhou com artesanato mas se firmou na área da construção civil (Não como empresário, mas como pedreiro, sub-empreiteiro e até empreiteiro. Não tinha ganhos exorbitantes, era sempre justo. Muitas vezes perdia e alguns não pagavam o que prometida) .Era elétrico quando trabalhava. Eu me lembro que ele e Miguel China, um dos mais sinceros amigos que teve, construíram uma casa da base ao telhado num dia, a casa do seu companheiro no Bairro Regina Coeli. Já no bairro carioca existe um grande número de casas onde o seu suor foi derramado. No bairro construiu duas casas para morar. A primeira ele vendeu, mas não recebeu a maior parte, pois o comprador um sujeito barrigudo e esperto tomou das mãos dele as promissórias e as rasgou.E aí partiu para a nova casa onde viveu até a sua morte. E, foi assim que criou os seus 7 filhos: Gilberto, José Alberto, Reinado, Antônio, Laura, Lourdes e Leda.
Acho que ele partiu como muitos almejam partir um dia. E, como um passarinho voou pra não mais voltar.
Resta-nos, os que ficam, as lembranças e principalmente os exemplos como força para continuarmos nossa tarefa até quando Deus quiser.
Pai, obrigado e desculpe por não ter podido fazer mais pelo senhor!